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O que os psicólogos realmente pensam?

Há ainda muito misticismo e falta de conhecimento em torno de fazer terapia e dos psicoterapeutas. Muitas pessoas acreditam que durante a terapia apenas conversamos, jogamos conversa fora; outros acreditam que só conversamos e outros ainda podem achar que temos poderes mágicos, trabalhamos com adivinhação e bola de cristal, segredos ocultos e estratégias milagrosas fazendo as coisas acontecerem.

    Mas é óbvio que somos seres humanos, apenas pessoas normais que gostam de trabalhar com pessoas. Temos dias bons e ruins, alguns de nós fazem um excelente trabalho, outros são péssimos, alguns trabalham horas e horas e atendem uma tonelada de pacientes, outros são mais específicos e atendem demandas mais específicas.


Mas o que acontece nos bastidores dos atendimentos? O que pensamos sobre nossos pacientes? Neste momento, surgem grandes dúvidas na cabeça das pessoas que são atendidas por psicólogos:


1º grande dúvida: o que fazemos entre 1 paciente e outro? Por que sessões tem 50min e não 1 hora? porque pago por 1 horas e só tenho 50 min de atendimento?

Os 10 min entre uma sessão e outra servem para se adequar a pacientes que possam se atrasar; finalizar sessões que se prorrogam; guardar coisas do atendimento que finalizou e arrumar a sala para o próximo; e até se recompor de algo que nos mobilizou durante o atendimento. 

Usamos também esse período para fazer algumas anotações que não podemos esquecer, para fazer um xixi, tomar água, pegar um café, fazer uma ligação importante e responder alguma mensagem urgente. E acreditem, em 10 min pouca coisa conseguimos fazer. Tanto é que, ao final do dia ficamos no mínimo mais 1 h terminando tudo. 

 

2º grande dúvida: o que pensamos durante a sessão de psicoterapia diante do nosso paciente/cliente?

Cada pessoa é diferente, pensa diferente então o que trago aqui é uma ideia aproximada geral do que passa na nossa cabeça durante o atendimento de vocês. A base de tudo é ouvir com atenção. 

Por estarmos fora das relações  que o paciente tem, não estamos envolvidos emocionalmente com isso e treinamos um pensamento imparcial, percebendo coisas que os pacientes não percebem. Sabe aquela relação que não dá certo, aquele problema difícil de resolver, nós conseguimos ver com mais clareza pois não estamos envolvidos. 

Assim conseguimos ajudar vocês a perceberem outros caminhos, outras possibilidades, tentamos te ajudar a se olhar mais, a entender seus próprios comportamentos. Podemos associar seus comportamentos as coisas que você pensa, que você acredita, algumas coisas do passado, as suas vivências atuais. 

Um bom psicólogo ao entender seu modo de “funcionar” vai te dando pistas, vai te conduzindo para encontrar suas próprias respostas para solucionar os seus problemas. E vai fazendo isso no seu tempo. Cabe a nós terapeutas pensar em como deixar essas “migalhas " no caminho para vocês encontrarem.

Percebemos tudo. Observamos e avaliamos tudo que ocorre durante a consulta: o jeito de sentar, de mexer no cabelo, o movimento das mãos (ou não), contato visual, expressões corporais… essa observação vai nos dando informações sobre possíveis diagnósticos, se as técnicas que estou usando estão tendo resultados, efeitos do tratamento. Somos como detetives juntando peças e desvendando um enigma. 


3º grande dúvida: O que vocês anotam tanto?

Acreditem, não é nada demais. Anotamos alguns sintomas, alguns comportamentos, algumas percepções. As técnicas que utilizamos também precisam ser anotadas, a evolução do tratamento, e a cada anotação, confirmar nosso diagnóstico. 

Coisas como medicações, acompanhamento com outros profissionais, efeitos de outras terapias, o peso no caso de transtornos alimentares. Se faz as atividades propostas para casa, se cumpre os combinados. Tudo isso precisa ser anotado para não ser esquecido. 

As anotações também servem para relembrar onde paramos, o que já foi feito, quais objetivos já foram ou não atingidos. Identificar se as metas estabelecidas para o tratamento se mantêm, ou se algo no tratamento precisa mudar. Servem para avaliar a progressão do tratamento. 

Não escrevemos ali sua história completa, ou coisas secretas sobre você, é realmente para deixar registrado se você está recebendo e tirando do processo o que realmente precisa. 


4º grande dúvida: pensam nos pacientes fora das sessões?

Estaria mentindo se dissesse que não. Somos humanos e nos preocupamos com as pessoas que atendemos. Essa profissão é justamente para ajudar as pessoas, e juntos trabalharmos para atingir seus objetivos. E mesmo não estando em atendimento, vivemos buscando estratégias para melhor atendê-los, outras maneiras possíveis de ajudar. Quando estudo, quando foco nos cursos, quando leio, estou sempre pensando como isso pode ajudar os pacientes. 

Masssss, isso não significa que estamos disponíveis o tempo todo. Precisa haver limites. Um psicólogo que está disponível o tempo todo, 24hrs por dia não está certo. Manter limites resguarda a nossa segurança e a do paciente. Se nos aproximamos mais de um paciente, muda a dinâmica e se torna amizade. E amigos não são imparciais.

Há momentos que o psicólogo precisa ser mais duro com você, e quando há amizade, isto se torna mais difícil. Lembrem-se que somos todos seres humanos, somos iguais, a diferença é que estudamos e somos treinados a ajudá-los, a guiá-los pelas suas dificuldades.


Resumindo: tudo que passa na nossa cabeça e como te ajudar, sobre o que fazer para te conduzir no melhor caminho para atingir seus objetivos da melhor forma possível. Garanto que se você tiver uma boa conexão com seu psicólogo, sabendo que ele está ali para te ajudar, que não é um inimigo, mas sim um companheiro de jornada, você descobrirá a verdadeira magia da psicoterapia. 


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